Declaração de Fé
DECLARAÇÃO
DE FÉ BAPTISTA
Adoptada
pela Convenção Baptista Portuguesa
I
- AS ESCRITURAS SAGRADAS
A
Bíblia Sagrada, nossa única e toda-suficiente regra de fé e
prática, foi escrita por homens divinamente inspirados e é o
registo da revelação pessoal de Deus. É um tesouro perfeito de
instrução divina. Tem Deus como autor, a salvação do homem como
fim e a verdade sem mescla de erro, como conteúdo. Revela o plano de
Deus para a nossa salvação e os princípios pelos quais Deus nos
há-de julgar. É a autoridade absoluta e o padrão supremo pelo qual
toda a conduta humana, as opiniões religiosas e os próprios credos
devem ser testados. É também, como revelação de Jesus Cristo, o
centro da verdadeira unidade cristã.
(II
Tim. 3:16-17; II Pedro 1:21; II Samuel 23:2; Actos 1:16; Prov.
30:5-6; João 17:17; Rom. 3:4; Apoc. 22:18-19; I Cor. 4:3-4; Luc.
10:10, 16; 12:47-48).
II
- DEUS
Há
somente um Deus vivo e verdadeiro; Ser pessoal, infinito, inteligente
e espiritual: o Criador, Redentor, Sustentador e Legislador do
universo, digno do mais puro amor, reverência, adoração e
obediência. O eterno Deus revela-se a nós como Pai, Filho e
Espírito Santo, com atributos pessoais distintos, mas sem divisão
de natureza, ser ou essência.
1.
Deus o Pai
Deus
como Pai, reina com cuidado providencial sobre o seu universo, as
suas criaturas e o curso da história humana, segundo os propósitos
da sua graça. Ele é todo-poderoso, perfeito em amor e em sabedoria.
É verdadeiramente Pai para todos os que aceitam Jesus Cristo, seu
Filho, como Salvador pessoal.
2.
Deus o Filho
Jesus
Cristo é o eterno Filho de Deus. Na sua encarnação, Ele foi
concebido do Espírito Santo e nascido da virgem Maria. Revelou e
consumou de forma perfeita a vontade de Deus, tomando sobre Si mesmo
as exigências e as necessidades da natureza humana e
identificando-se completamente com a humanidade que veio remir,
embora sem pecado. Honrou a lei divina pela sua obediência pessoal e
na sua morte sobre a cruz providenciou para o homem a expiação dos
seus pecados. Ressuscitou com um corpo glorificado e apareceu aos
seus discípulos de forma visível, audível e palpável. Ascendeu ao
Céu e é agora exaltado à mão direita de Deus, como o único
mediador, participante da natureza de Deus e do homem, em cuja pessoa
se efectua a reconciliação com o Pai. Virá segunda vez em poder e
glória para julgar o mundo e consumar a sua missão redentora. Jesus
Cristo habita agora em todos os crentes na qualidade de Senhor vivo e
eternamente presente.
3.
Deus o Espírito
Santo
O
Espírito Santo é o Espírito de Deus. Foi Ele quem inspirou os
homens santos de outrora a escrever as Escrituras. Habilita hoje o
homem a compreender a verdade através da sua iluminação. Exalta
Cristo como Senhor. Convence do pecado, da justiça e do juízo.
Convida os homens ao Salvador e efectua a regeneração. Cultiva o
carácter cristão, conforta os crentes, habita neles e lhes confere
dons espirituais através dos quais servem a Deus na sua igreja.
Ilumina os crentes e os reveste de poder para a adoração e o
serviço de evangelização.
(João
4:24; 15:26; Salmo 83:18; Hebreus 3:4; Rom. 1:20; Jer. 10:10; Êxodo
15:11; Isa. 6:3; I Pedro 1:15-16; Apoc. 4:11; Mar. 12:30; Mat. 10:37;
28:19-29).
III
- O HOMEM
O
homem foi criado por Deus à sua imagem, como coroa da sua criação.
Era no princípio inocente e sem pecado, sendo dotado de liberdade de
escolha. No uso da sua liberdade o homem pecou contra Deus e por
transgressão voluntária caiu do seu primitivo estado de santidade,
trazendo o pecado sobre toda a raça. A sua posteridade herdou
consequentemente uma natureza pecaminosa, de sorte que todos se
tornaram transgressores, estando debaixo de condenação. Só a graça
de Deus pode restaurar o homem à sua santa comunhão e habilitá-lo
a cumprir o propósito do seu Criador. A dignidade da pessoa humana é
revelada no facto de Deus haver criado o homem à sua própria imagem
e no facto deste ser objecto do seu infinito amor, a ponto de Cristo
morrer para o salvar, apesar de pecador perdido e sem esperança.
(Gén.
1:27, 31; 2:16; Ecles. 7:29; Actos 17:26; Rom. 5:12, 15-19; João
3:6; Salmo 51:5; Efésios 2:3; Ezeq. 18:19-20; Gál. 3:22).
IV
- A SALVAÇÃO
A
salvação envolve a redenção do homem total. É oferecida
espontânea e gratuitamente a todos os que aceitam Jesus Cristo como
Senhor e Salvador pessoal, o qual por decreto do Pai tomou
voluntariamente a forma humana, fazendo por sua morte a expiação
completa dos nossos pecados. Num sentido mais amplo, a salvação
inclui regeneração, santificação e glorificação.
Regenração,
ou novo nascimento, é a operação da graça de Deus pela qual os
crentes se tornam novas criaturas em Cristo. É uma mudança de
coração produzida pelo Espírito Santo através da convicção do
pecado, à qual o pecador responde em arrependimento e a fé são
experiências inseparáveis da graça divina, que dão à vida uma
nova direcção. A justificação introduz-nos a um estado de paz e
favor que nos asseguram todas as bençãos necessárias, nesta vida e
no além. A justiça perfeita de Cristo é-nos imputada gratuitamente
por Deus.
Santificação,
é um processo espiritual que começa na regeneração e visa a
perfeição do crente, através da presença e do poder do Espírito
Santo que nele habita.
Glorificação,
é a plenitude da salvação e o bendito estado final dos remidos.
(Efésios
2:5; I Jo. 4:10; I Cor. 3:5-7; João 3:16; Isa. 53:4-5; Heb. 7:25;
Col. 2:9; Ef. 3:8; Rom. 5:1-2, 9; 3:24-26; Apoc. 22:17; Act. 17:30;
Marc. 1:15-17; Jo. 3:19; 5:40; João 3:3, 6-7; Apoc. 7:13-14; Ezeq.
36:26; I Pedro 1:22; I Jo. 5:1, 4, 18; Ef. 2:8; Rom. 10:9-11; Heb.
4:14; I Tess. 4:3; 5:23; Ef. 1:4; 4:11-12; 6:18; Fil. 2:12-13; I Ped.
2:2).
V
- O PROPÓSITO DA GRAÇA DIVINA
A
eleição é o propósito da graça de Deus segundo o qual Ele
regenera, santifica e glorifica o pecador arrependido e crente. É
perfeitamente coerente com a livre escolha do homem, sendo a
manifestação por excelência da soberana bondade de Deus,
infinitamente livre, sábia, santa e imutável. Todos os verdadeiros
crentes estão seguros nas mãos de Deus. Aqueles que Deus aceitou em
Cristo e santificou pelo seu Espírito jamais cairão do seu estado
de graça, sendo conservados até ao fim.
(II
Tim. 1:8-9; 2:10; II Tess. 2:13-14; I Cor. 1:26-31; 4-7; Rom. 3:27;
8:28, 30; I Tess. 1:4; II Pedro 1:10-11; Fil. 3:12; Hebreus 6:11;
Rom. 8:28; Mat. 6:30-33; Fil. 1:6; 2:12).
VI
- A IGREJA
Uma
igreja de Cristo é, segundo o Novo Testamento, um corpo local de
crentes baptizados, identificados uns com os outros pela confissão
da mesma fé e unidos por um mesmo pacto na comunhão do Evangelho. É
uma congregação de crentes baptizados, regida pelas leis de Cristo,
que observa as suas ordenanças, pratica os seus ensinos e exerce os
dons, direitos e privilégios de que foi investida pela Palavra
divina, com o fim de espalhar o Evangelho até aos confins da Terra.
É uma comunidade autónoma de governo democrático sob a soberania
de Jesus Cristo. Os seus oficiais são, de acordo com o Novo
Testamento, os pastores e os diáconos. Todos os seus membros têm
iguais direitos, privilégios e responsabilidades.
A
igreja num sentido geral é, segundo o Novo Testamento, o corpo de
Cristo, incluindo todos os remidos de todos os tempos.
(Actos 2:41-42; 13:23; 15:22; I Cor.
14:12; II Cor. 8:5; Fil. 1:1; I Tim. 3:1).
VII
- O BAPTISMO E A CEIA DO SENHOR
O
baptismo cristão é a imersão do crente em água, no nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo. É um acto de obediência que
simboliza a sua fé no Salvador crucificado, sepultado e
ressuscitado. Representa ainda que o convertido morreu para o pecado,
tendo-se verificado o sepultamento da sua velha natureza e a sua
ressurreição para uma nova vida em Cristo. Este acto simbólico de
testemunho deve preceder a entrada do crente na comunhão da igreja,
pois, como ordenança do Senhor, o constitui participante de todos os
privilégios de membro e lhe dá acesso à ceia do Senhor.
A
ceia do Senhor é igualmente um acto de obediência pelo qual os
membros da igreja participam do pão e do vinho, comemorando juntos a
morte de Jesus Cristo e apontando para a sua segunda vinda. Esta
ordenança da igreja local representa também a nossa comunhão
espiritual com Ele, a nossa participação na sua morte e o
testemunho vivo da nossa esperança.
(Actos
2:41-42; 8:36-39; Mat. 3:5-6; 28:19; Gál. 3:27-28; Rom. 6:4; Col.
2:12; Lucas 22:19-20; Mar. 14:20-26; Mat. 26:27-30; I Cor. 11:27-30;
João 6:35).
VIII
- O DIA DO SENHOR
O
Domingo, Dia do Senhor e o primeiro dia da semana, é o dia em que o
crente comemora a ressurreição de Cristo descansando das suas
actividades seculares. Deve ser consagrado ao exercício do culto, do
testemunho e de outras formas de serviço espiritual, tanto público
como privado.
(Mat. 28:1; Mar. 16:2; Luc. 24:1;
Jo. 20:1, 19; Act. 20:7; I Cor. 16:2; Apoc. 1:10).
IX
- O REINO DE DEUS
O
reino de Deus inclui a sua soberania geral sobre o universo e sobre
todos os homens que espontânea e voluntariamente O reconhecem como
Rei e Senhor. Todos os crentes devem orar e esforçar-se para que o
reino de Deus venha em plenitude e a sua vontade seja feita sobre a
Terra. A consumação plena do seu reino aguarda a segunda vinda de
Jesus Cristo e o fim da era presente.
(Mat.
3:2; 5:3-6; 6:9-10; 6:33; 18:1-3; 28:19; Mar. 1:14-15; 4:27; Apoc.
5:1; Rom. 14:17).
X
- 0S ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS
Deus,
no devido tempo e a seu modo, conduzirá todas as coisas neste mundo
ao seu adequado termo. Jesus Cristo voltará pessoal e visivelmente
em glória, de acordo com a sua promessa. Os mortos ressuscitarão e
Cristo julgará todos os homens com rectidão. Aqueles que
persistirem na incredulidade e na impenitência receberão do inferno
a sua eterna punição. Os salvos fruirão a bem-aventurança eterna
em seu corpo ressuscitado e glorificado, e habitarão eternamente no
Céu com o Senhor.
(Mat.
25:31-46; Lucas 18:8; 23:42-43; Actos 1:7-11; João 3:36; 12:25-26;
Salmo10:4; I Pedro 4:7; I Cor. 6:9-10; 15:50-58; Heb. 1:10-12; Mat.
13:37-43; Luc. 14:14; Daniel 12:2; Apoc. 22:11; I Tess. 4:16-17; II
Tess. 1:6-12; Rom. 2:2-16; I Jo. 4:17; Apoc. 20).
XI
- EVANGELIZAÇÃO E MISSÕES
É
dever e privilégio de todas as igrejas e de cada crente em
particular, esforçarem-se por fazer discípulos em todas as nações.
O novo nascimento do espírito do homem pelo Espírito de Deus faz
nascer nele também o amor pelos outros. O esforço missionário é
repetida e expressamente ordenado nos ensinos de Jesus, assentando
numa necessidade espiritual da vida regenerada. É, pois, dever de
todo o filho de Deus procurar ganhar almas para o Salvador através
do testemunho pessoal e do uso de todos os meios consentâneos com o
Evangelho de Cristo.
(Mat.
28:19-20; Mar. 16:15; Luc. 9:1-6; 10:1; 24:46-48; João 15; 16;
17:11-20; Actos 1:8; 4:33; 14:21-27; I Tess. 1:6-9; II Tim. 2:1-13).
XII
- MORDOMIA
Deus
é a fonte de todas as bençãos temporais e espirituais. A Ele
devemos tudo o que somos e tudo o que possuímos. Temos, por
conseguinte, uma dívida espiritual para com o mundo, pois somos
feitos depositários do Evangelho e dispenseiros da graça de Deus. É
nossa obrigação servi-lo com o nosso tempo, os nossos bens
materiais, devendo reconhecer que todos estes dons nos foram
confiados com o fim de os usarmos para a glória de Deus e ao serviço
do nosso próximo. Ensinam as Escrituras que o crente deve contribuir
para a igreja, alegremente e com regularidade, tomando como base o
dízimo dos seus rendimentos e cultivando a liberalidade na prática
de uma mordomia integral, com o alvo de promover o avanço da causa
do Redentor sobre a Terra.
(Génesis 14:20; Heb. 7:1; Génesis
28:20-22; Malaq. 3:7-10; I Cor. 16:1-2).
XIII
- COOPERAÇÃO
Reconhecendo
que a cooperação é um princípio claramente expresso nas
Escrituas, o povo de Cristo deve assegurá-la da melhor maneira
possível, tendo em vista a concretização dos grandes objectivos do
Reino de Deus. As organizações de cooperação, embora não tenham
autoridade sobre as igrejas nelas associadas, são formadas para
despertar, unir e coordenar as actividades que em conjunto,
voluntariamente, se propõem empreender. As igrejas devem cooperar
umas com as outras no avanço da obra missionária, educacional e
beneficiente. Unidade cristã, no sentido do Novo Testamento, é
harmonia espiritual e cooperação voluntária para os mesmos fins
comuns.
(Fil.
1:5; 4:3; I Cor. 3:9; II Cor. 8:23; 11:28; Col. 4:11; I Tess. 3:2;
III Jo. 8:1; I Tess. 1:7-10; Rom. 1:14-15; 15:25-27).
XIV
- O CRENTE E A ORDEM SOCIAL
Todo
o crente aceita, por imperativo de consciência cristã, a supremacia
de Cristo na sua vida e na sociedade humana. Os princípios e métodos
usados para a promoção da sociedade e o estabelecimento da justiça
entre os homens só podem ser verdadeira e permanentemente
proveitosos, quando fundados na regeneração pela graça salvífica
de Deus em Jesus Cristo. O crente deve esforçar-se por promover por
todos os meios ao seu alcance os princípios da justiça social, a
verdade e o amor fraternal. Deve para isso estar pronto a cooperar
com todos os homens de boa vontade em todas as causas justas,
cuidando sempre a agir no espírito de amor, sem comprometer a ética
cristã, procurando ser inteiramente leal a Cristo e à sua Palavra.
(Lev.
19:18; Miq. 6:8; Isa. 1:16-18; Mat. 19:19; 22:39; Marc. 12:31; Rom.
12:13-21; 13:8-12; Gál. 5:14; Tiago 2:8; Sal. 11:7; 33:5; 45:7; Mat.
5:6, 10; 5:39-48).
XV
- PAZ E GUERRA
É
dever de todo o cristão promover a paz entre todos os homens dentro
dos princípios da justiça. Em harmonia com o espírito e os ensinos
de Cristo, o crente deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para
evitar ou pôr fim à guerra, ciente de que a verdadeira solução
para os conflitos entre os homens se encontra no Evangelho. A
necessidade suprema do mundo é a aceitação dos ensinos de Cristo
em todos os sectores da vida dos homens e das nações e a aplicação
prática da sua lei de amor.
(Isa. 2:2-4; 9:6-7; Mat. 5:9; Luc.
1:79; 2:14, 29; 10:5; Act. 10:36; Rom. 5:1; Col. 1:20; Ef. 4:3; Heb.
12:14; Rom. 12:18; 14:19; I Cor. 14:33).
XVI
- LIBERDADE RELIGIOSA
Deus
é o único Senhor da consciência. Sendo o governo civil uma
instituição estabelecida para promover os interesses e o bem-estar
da sociedade humana, é nosso dever orar pelas autoridades
constituídas e prestas-lhes obediência em todas as coisas que não
sejam contrárias à vontade revelada de Deus. Deve haver inteira
separação entre a igreja e o estado, devendo este assegurar a cada
igreja a protecção e inteira liberdade para o exercício da sua
missão espiritual. Nenhum grupo eclesial ou denominação deve ser
favorecido pelo estado, nem a igreja deve depender do poder civil
para realizar a sua obra. Uma igreja livre num estado livre, é o
ideal cristão e isso implica a garantia do livre acesso a Deus por
parte de todos os homens e o direito a terem e difundirem as crenças
religiosas, sem qualquer interferência por parte do poder civil.
(Rom.
13:1-7; 14:9-12; Mat. 10:28; 22:21; 23:10; Tito 3:1; I Pedro 2:13; I
Tim. 2:1-8; Actos 4:18-20; 5:29; Apocalipse 19:16; Salmo 2; 72:11).
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